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Responsabilidade da Igreja na hora actual 

O tema foi debatido no Dia da Igreja Diocesana (1 de Maio de 2012), na Missão do Munjombwe, onde os missionários de Benguela se reuniram para celebrar a data.
O Padre Lourenço Kambalo foi o expositor da reflexão cujo tema apresentamos o extrato que se segue.

0. Premissa
Olhando para a conjuntura das mudanças que se vão operando em Angola desde 2002 e tendo em conta o quadro político do nosso país nesses últimos meses, poderíamos dizer que o tema que nos é proposto – A responsabilidade da Igreja no momento actual – além de ser candente é bastante desafiador.
A distância de quatro meses das eleições, nossas atenções e reflexão voltam-se natural e inevitavelmente, para aquele grande momento que todos, através do voto, e como cidadãos conscientes e responsáveis, seremos chamados a exercer nossa cidadania na construção de uma sociedade justa e solidária. Aliás, o voto é a principal arma do cidadão no regime democrático. É através dele que nós podemos fazer valer a nossa vontade e o nosso legítimo poder. É pelo voto que participamos dos destinos do nosso país, Angola.
Mas até lá, o caminho é ainda longo, com os partidos que vão procurando apoio, estreitando alianças oportunistas que podem atingir os critérios de interpretação dos valores do próprio Evangelho. Daí a necessidade de termos bem patente o senso global da responsabilidade da Igreja no momento presente.

1. Responsabilidade da Igreja e missão da comunidade política
Qual é a responsabilidade da Igreja no momento actual?
O Papa João Paulo II, ora Beato, na sua homilia de 17 de Outubro de 1993, sobre a controvérsia do tributo a César faz um comentário que creio ser uma resposta clara e actual a esta questão: «Com a sua resposta Jesus oferece a indicação de uma linha de comportamento válida não só para a situação histórica do momento, mas também para o nosso tempo e para todas as épocas. Ele afirma que o mundo da religião e aquele da política são distintos entre si, cada um com finalidades próprias, e cada um com o poder de vincular a consciência das pessoas. Religião e política devem permanecer âmbitos distintos. Mas o homem religioso e o cidadão fundem-se na mesma pessoa e cada pessoa deve ser consciente e solícita seja das próprias responsabilidades religiosas como daquelas sociais, económicas e políticas. Isto é importante em todos os tempos e talvés agora seja ainda mais».
Portanto, a relação entre a Igreja e o Estado – e qualquer realidade política e social – comporta uma união sem confusão, uma colaboração sem ingerência, uma independência sem indiferença, uma distinção sem separação. A distinção entre a responsabilidade da Igreja e aquela da comunidade política implica que o Estado perca a sua pretensão de governar as consciências. Aliás, o fundamento moral da política encontra-se fora dela, é-lhe garante uma outra comunidade: a Igreja.
A autonomia recíproca da Igreja e da comunidade política não comporta, pois, uma separação tal ao ponto que essas não possam ou não devam ter pontos de encontro, porque os membros da Igreja peregrina são, ao mesmo tempo, membros de uma determinada comunidade política.
A comunidade política e a Igreja podem exigir uma da outra o que é necessário para que ambas se respeitem na sua consistência essencial e na sua finalidade específica. Sendo ambas por definição, realidades positivas de natureza social que servem ao bem do homem, todas as acções que são obstáculo ou impedimento do seu serviço configuram-se como ilegítimas e imorais.
2. A Igreja não tem partido mas toma partido e nos orienta
Os ensinamentos de Jesus, como se pode ver na supracitada controvérsia a propósito do tributo a César, embora não proponham uma estranheza entre as duas esferas, recordam que existe uma recíproca influência e mostram de forma clara a transcendência da justiça escatológica em relação à justiça terrena e social. Mostram, igualmente, que as realidades temporais são relativas e limitadas, e de forma alguma podem encasular o Evangelho que é a fonte de toda a verdade salvífica e de toda a regra moral.
«A missão própria confiada por Cristo à Sua Igreja, não é de ordem política, económica ou social: o fim que lhe propôs é, com efeito, de ordem religiosa. Mas desta mesma missão deriva um encargo, uma luz e uma energia que podem servir para o estabelecimento e a consolidação da comunidade humana segundo a lei divina».
Dest’arte, a Igreja, qual comunidade dos crentes, que se organiza autonomamente do aparato do Estado e independentemente deste funciona, não pode ter partidos, mas toma partido, porque o Evangelho não é indiferente perante os problemas dos homens; nem é neutro face às variadíssimas propostas de solução para os mesmos.
A Igreja toma partido a favor da dignidade humana e de seus direitos, vistos à luz de todas as suas dimensões: individual, social e transcendente; a Igreja toma partido pela verdade, pela liberdade, pelo bem-estar do homem e de todos os homens, pela justiça e pela solidariedade humana; a Igreja toma partido contra a ausência de critérios morais, a injustiça, a opressão, o economicismo, a mentira e qualquer forma de exploração. Por isso, Igreja e política embora sejam diferentes não são indiferentes um ao outro.


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DIOCESE DE BENGUELA